
PROJETO VITAN
Gustavo Calado - 8º3ª
Martim Pepe - 8º3ª
Francisco Mateus - 8º3ª
Giulia Dias - 8º3ª
Lara Assunção - 7º6ª
Felipe Guedes - 8º6ª
João Corgo - 8º6ª
Depois de 16 anos à frente dos destinos da ESPA/AEPA
PROFª ROSÁRIO FERREIRA EM ENTREVISTA
O Projeto VITAN entrevistou a Diretora do AEPA, precisamente no final do seu mandato. Apesar do muito trabalho e do pouco tempo, a professora recebeu o Projeto VITAN na sua sala de reuniões. Surpreendeu com a sua humildade, ternura e simpatia.

ROSÁRIO FERREIRA
DOCENTE DE EDUCAÇÃO MORAL RELIGIOSA CATÓLICA
Nasceu em 1961
Lisboeta
Signo de Leão
3 Filhos
3 Netos
Católica
Benfiquista
Sempre foi o meu sonho. Gosto muito de ensinar e gosto muito de aprender com os alunos. O que um professor tem de melhor é aquilo que aprende com os seus alunos e é por isso que gosto muito de ensinar.
Acho que o que mais me orgulha é sentir que estou a chegar a um ciclo final do meu mandato. Vou deixar de ser diretora, porque, já lá vão muitos anos. Eu estou no órgão de gestão há quase trinta anos, dezasseis dos quais como Diretora. Tenho quarenta de profissão, não estive sempre sem dar aulas (apenas enquanto fui diretora não dei aulas). Orgulho-me principalmente de encontrar alunos meus, que hoje me consideram como uma pessoa que os ajudou a crescer e, portanto, nesse aspeto, orgulho-me muito. É um grande orgulho quando olhamos para trás e vemos que conseguimos fazer alguma diferença na vida das pessoas.
Trabalhar na área do ensino era o seu sonho?
"O melhor são os alunos e tudo o que se aprende com eles. O pior é toda a parte burocrática, é toda a papelada que nos envolve, são as milhares de horas que se passam a assinar papéis."
O que mais se orgulha de ter feito na escola?

A falta de professores é cada vez maior. Qual será a principal razão para os jovens não se interessarem pela área do ensino?
“Eu faço parte de uma geração em que ser professora era uma coisa que entusiasmava, os alunos eram diferentes. Apesar de serem tão exigentes como são hoje, eram mais recetivos àquilo que o professor dizia. Hoje sentimos que as pessoas se esqueceram de que existem deveres, de que têm deveres para com os outros, para com os direitos dos outros. A profissão é mal paga, é verdade! Se formos ver, a profissão nunca foi bem paga. O professor deixou de ter tempo para os seus alunos, pois está rodeado de muita papelada, de muita burocracia e isto também faz com que o professor perca o entusiasmo daquilo que é mais importante para si, que no fundo é a relação com os seus alunos. Depois há o cansaço. Muitos professores estão muito cansados, muito saturados e isto reflete-se lá fora. As pessoas vão percebendo que ser professor não é uma coisa que nos possa dar perspetivas de um grande futuro. Depois há outra questão, que é a distância. Temos professores que vivem no Porto, em Bragança, no Algarve e, portanto, muito longe da escola. Vêm para o ensino ganhar um ordenado com o qual têm que pagar uma casa na sua terra, têm que alugar aqui uma casa, têm que deixar os filhos e, portanto, tudo isto cria muita incerteza na vida do professor. As pessoas deixaram de ter vontade de se querer sujeitar a uma situação destas. Claro que ainda há, como é evidente, professores. Mas é uma preocupação grande e eu acredito, tenho que acreditar, quero acreditar, que as instituições superiores, a nossa tutela, o governo, o Ministério da Educação, irão pensar, irão alterar muitas coisas relativas à profissão do professor, porque senão vamos chegar ao ponto de não haver professores. Vocês olham para a nossa escola e veem que a maior parte dos professores estão perto dos sessenta anos, quase a reformar-se. Vai deixar de haver professores que substituam os que irão sair por limite de idade.
Disse que a parte mais cansativa do ano é o verão. É o final e o início do ano seguinte, é fechar um ano, e começar o outro.
Acha que a pandemia afetou muito o funcionamento da escola?
"Eu não quero acabar a minha profissão em volta de papéis e de plataformas. Eu não quero perder aquilo que a profissão me deu de melhor, que foram os alunos."
Muito mesmo. A pandemia trouxe-nos uma coisa boa. Foi a capacidade de podermos aproveitar as novas tecnologias no sentido de facilitar a nossa vida. Por exemplo, as reuniões que os professores fazem não precisam de tanto tempo e, quando são feitas online, facilitam imenso a vida de todos. Também aprendemos que na relação com os alunos e na aula e na transmissão dos conhecimentos, as tecnologias podem ser importantes, mas isto é aquilo que eu considero que pode ter sido mais positivo. Considero que o que foi negativo, foi muito superior a isto. A ausência, o afastamento, o não estarmos uns com os outros, o não nos vermos, o não nos olharmos olhos nos olhos. Os professores sentiram muito isso e agora nesta altura em que se permitiu que se tirassem as máscaras, muitos disseram “nunca pensei que aquele aluno tivesse aquela cara”. A mim aconteceu-me com funcionárias da escola, que eu nunca tinha visto sem máscara e que quando as pessoas a tiraram, pensei “quem é esta pessoa?”. Agora olhamo-nos nos olhos, olhamo-nos na cara, vemos o sorriso (a máscara tirou-nos o sorriso), e isto são coisas que são muito importantes para nós. Tiraram-nos as expressões. Se alguém estivesse irritado, eu não conseguia ver tão bem que a pessoa estava irritada, porque existia uma máscara à frente. Agora, quando olho as pessoas nos olhos, não só nos olhos, mas em toda a sua expressão, existe algo que pode permitir a empatia. Ver a cara toda é ver a pessoa toda. Isto foi uma coisa muito negativa. Lembro-me que no primeiro confinamento toda a gente foi para casa, inclusivamente toda a direção, e as únicas pessoas que ficaram aqui, fui eu, a dona Natércia, chefe de serviços administrativos, e a dona Celeste, chefe das assistentes operacionais. Isso provocou-me uma tristeza profunda, porque a escola parecia um castelo assombrado, porque a escola não faz sentido sem os alunos, não é? Foi uma sensação de mágoa, de terror. Não estávamos uns com os outros, não nos víamos, não nos tocávamos. Foi muito mau e eu acho que isto fez também muito mal aos alunos, porque também os afastou do convívio com os outros, porque nós crescemos juntos não é? Crescemos com os outros e, portanto, isto tinha que nos afetar muito. Ainda hoje eu acho que muitos alunos foram muito prejudicados com a pandemia, com os confinamentos, sobretudo os que já eram mais tímidos, mais envergonhados ou mais metidos consigo. Há muitos alunos a sofrer neste momento com o facto de terem passado dois anos desta maneira. Depois há a questão da aprendizagem, que não se faz da mesma maneira. Numa aula de língua estrangeira, quando se ouve um professor a falar, observamos os movimentos da expressão que a pessoa faz quando pronuncia as palavras. Ora, usando uma máscara, com certeza que não a iremos entender. As disciplinas de línguas estrangeiras devem ter sido as que foram mais prejudicadas. Contudo, a forma como a nossa escola se adaptou à nova realidade de transmissão de conhecimentos, foi excecional. Os professores, numa semana, estavam a dar aulas online, graças a professores que aqui estão na escola e que colaboraram e ajudaram imenso e que explicaram, porque, provavelmente, dois terços dos professores não sabia o que era uma ClassRoom e tivemos uma semana para aprender tudo isso. Nesse aspeto foi muito bom porque crescemos. Aprendemos muito e tivemos muitas, muitas, muitas formações, Passámos muito tempo em formação porque houve uma professora aqui da escola que fez isso e que, se entregou completamente para nos ajudar. Este processo decorreu todo online e a escola respondeu muito bem e é nisto que eu tenho muito orgulho, nos meus colegas, porque foram muito proativos, muito decididos em dar resposta aos nossos alunos. No nosso agrupamento, temos escolas de primeiro ciclo, temos alunos do pré-escolar e esses alunos não usar a ClassRoom, não é? Portanto, esse trabalho foi feito com o telemóvel do professor ou educador, que não tinha outro, tinha aquele, o seu telemóvel pessoal. Dedicou-se e criou grupos de Whatsapp, criou uma série de metodologias para estar em contacto com os alunos, mesmo quando não aparentava ser fácil. Imaginem o que é pedir a uma criança de 4 anos “então agora faz lá, vais fazer o jogo” e depois vai fazer o jogo sozinha... foi muito complicado. O ensino à distância pode ser compensador em algumas coisas, mas não pode substituir o ensino presencial. Isso é muito claro para mim.
Em toda a sua carreira, qual foi o melhor momento ou que guarda com maior felicidade?
Foram vários os momentos. Foram essencialmente os momentos em que estive com os alunos em atividades fora da escola. Foram os momentos em que estive com o corpo docente e com as funcionárias e com as assistentes operacionais e, estando eu há trinta e um anos nesta escola, também os considero minha família. Foram esses os momentos que realmente me tocaram e que eu recordo com muita saudade e que tenho muita vontade de voltar a repetir. Por isso vou deixar a direção, porque quero estar com os meus alunos, quero ter os meus alunos, quero estar com eles, quero fazer trabalhos com eles.

Que aprendizagens absorveu durante estes anos de profissão?

Uma vida inteira de aprendizagem. A todos os níveis. Principalmente na relação humana, na capacidade de poder aceitar a diferença do outro pois, do outro lado, está uma pessoa que sente, que ri, que chora e que tem sentimentos, tal e qual como eu. Esta foi a grande aprendizagem da minha vida aqui. Depois aprendi muita coisa de informática, fiz um mestrado na área de formação de professores porque era importante estar mais por dentro, ter mais conhecimentos, para se estar na escola e para se ser um melhor professor. Não sei, mas acho que voltando agora a dar aulas e voltando à minha vida normal de docente, tenho a perspetiva de ser muito melhor professora do que era antes.
Sente que fez tudo o que tinha de ser feito?
Aquilo que eu acho que não fiz, foi ter tempo para poder estar mais com os alunos, porque a determinada altura senti que só estava com os alunos para ralhar com eles. Não é isso que eu quero, não é esta a minha missão. Procurei não me afastar completamente de algumas atividades que a escola já fazia e, portanto, consegui manter esses momentos para sair com os alunos e para estar com eles.
Sente orgulho do seu trabalho?
Estou orgulhosa no sentido de me conseguir aceitar. Apesar das minhas falhas (porque eu não tenho dúvidas de que também falhei), trabalhei com gente muito boa, com gente que me ensinou muito em todos estes anos e que consegui criar equipas de trabalho muito amigas. Portanto, nós, mais que colegas, somos muitas vezes amigos aqui na escola, pois, criámos grandes amizades que serão amizades para a vida.
Uma mensagem?
Sejam autênticos, verdadeiros e façam tudo para que a vossa vida passe por aqui, na escola, como um momento de grande entusiasmo. É muito bom, ver alunos que hoje já cá não estão, que são médicos, que são enfermeiros, que são pedreiros, que são comerciantes, sei lá, o que forem, mas que olham para trás e dizem “esta foi a minha escola e eu tenho muito orgulho de ter passado por aqui”
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